HAVANA - A blogueira dissidente cubana Yoani Sánchez foi presa na
quinta-feira à tarde com seu marido, o jornalista Reinaldo Escobar, e um
outro blogueiro chamado Agustín Díaz, informaram ativistas nesta
sexta-feira. Os três estavam em um carro a caminho do julgamento do
espanhol Ángel Carromero, na cidade de Bayamo. Eles esperavam poder
acompanhar a audiência como jornalistas, já que Yoani é colaboradora do
jornal espanhol “El País” e Escobar é repórter do “Diário de Cuba”. O
espanhol é acusado de ter causado a morte do ativista Oswaldo Payá em um
acidente de carro.
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O “El País” diz ter confirmado a prisão de Yoani com o filho da
blogueira, Teo. O fotógrafo Orlando Luis Pardo Lazo escreveu no Twitter
que Yoani, o marido e Díaz foram presos por volta das 18h de
quinta-feira, mas só puderam avisar seus parentes às 3h da madrugada. A
notícia já corre pelas redes sociais e foi confirmada pelo opositor
Guillermo Fariñas, em entrevista ao GLOBO.
- Não sabemos como
Yoani está e nem para onde a polícia a levou. Para nós, ela está
desaparecida. Seu telefone parece ter sido confiscado, pois não funciona
e o governo não deu explicação alguma sobre a prisão dela - disse
Fariñas. - Ela estava a caminho do julgamento do espanhol Ángel
Carromero a trabalho, como correspondente do jornal “El País” -
acrescentou.
Elizardo Sánchez, porta-voz da Comissão Cubana de
Direitos Humanos e Reconciliação Nacional - organização que registra
detenções políticas no país - acrescentou ao GLOBO que Yoani e Escobar
não foram creditados pelo governo como repórteres que poderiam assistir à
audiência de Carromero. Quando o casal e Díaz chegaram a Bayamo, foram
parados por uma operação policial que tinha como objetivo deter
ativistas que pudessem participar de manifestações relacionadas ao
julgamento do espanhol. Como as autoridades não reconhecem Yoani,
Escobar e Díaz como jornalistas, mas sim como militantes, eles foram
presos, conta Sánchez.
- Por volta das seis horas da tarde de
ontem, Yoani, o marido Reinaldo Escobar e o ativista Agustín Díaz foram
detidos na cidade de Bayamo, a cerca de 800 quilômetros de Havana. Yoani
e Escobar não estavam creditados para participar do julgamento e foram
reconhecidos pela polícia, que fazia uma operação na cidade contra
ativistas - conta Sanchéz. - Outros seis ativistas locais também foram
detidos na operação na cidade - acrescentou.
Apesar do fato de
Yoani estar incomunicável, Sanchéz acredita que a detenção da blogueira e
colaboradora do “El País” será temporária.
- Acredito que a
prisão de Yoani, Escobar e Díaz seja temporária. As autoridades devem
libertá-los no decorrer desta sexta-feira - salientou Sanchéz.
O
julgamento de Ángel Carromero deve começar ainda nesta sexta-feira.
Somente alguns repórteres foram autorizados pelo governo a entrar no
tribunal, mas sob a condição de não portar nenhum aparelho de gravação.
Carromero estava dirigindo o carro no momento do acidente que matou o
ativista Oswaldo Payá. O espanhol é acusado de homicídio imprudente. A
promotoria pede pena de sete anos.
Segundo García Ginarte,
jornalista da televisão de Bayamo, Yoani iria acompanhar o julgamento
como “correspondente ilegal” do jornal espanhol “El País”. Ao anunciar a
prisão, Ginarte, um defensor do governo dos Castro, acusou a dissidente
de querer incitar um “show midiático” e de ser pró-EUA.
Em 9 meses, mais prisões que em todo ano de 2011
Um
relatório divulgado pela Comissão Cubana de Direitos Humanos e
Reconciliação Nacional mostrou um aumento nas prisões por motivações
políticas. Nos primeiros nove meses deste ano, foram mil detenções a
mais que em 2011 inteiro. Em entrevista ao O GLOBO, por telefone,
Elizardo Sánchez lembrou que a visita do Papa Bento XVI e as
manifestações que ocorreram na época foram uma das causas para o salto
do número, mas reforçou que a principal razão para o aumento da
repressão mês a mês é um maior descontentamento da população cubana.
-
Em Cuba, as pessoas não se manifestam como o que acontece no Chile ou
no Brasil. Lá são sociedades abertas. Aqui, se elas forem às ruas, vão
ser presas. A insatisfação está aumentando e os grupos de oposição
também. Há algum tempo, as manifestações eram de poucas pessoas nas
ruas. Agora são milhares - afirmou Sánchez.