
Reinaldo Escobar (D) ao lado da mulher e blogueira Yoani Sánchez
Foto: ADALBERTO ROQUE / AFP
jornalista Reinaldo Escobar, marido da blogueira Yoani Sánchez e um dos líderes da oposição cubana, não conteve seu entusiasmo ao atender em Havana o telefonema de Zero Hora para falar sobre o reatamento de relações entre Estados Unidos e Cuba.
Yoani está em Praga, participando de um evento sobre direitos humanos promovido pelo governo checo. Os dois se comunicaram rapidamente. Ele lhe daria a notícia. Ela já sabia. A oposição cubana está empolgada. Tanto Yoani quanto Escobar são críticos moderados do regime, que reconhecem conquistas sociais da revolução cubana. O jornalista demonstra isso ao dizer que deve haver gente que não gosta do que está ocorrendo, porque aposta na política do confronto.
Leia a entrevista feita por ZH por telefone com Escobar:
Como está a recepção da retomada de negociações entre Cuba e Estados Unidos?
É uma grande notícia. Faz 20 minutos que terminou o discurso do senhor Raúl Castro, com o anúncio oficial. Não pudemos escutar o discurso pelos canais tradicionais de Cuba, mas foi possível pelo canal Telesur, que pega aqui. Creio que realmente é um fato histórico. É a política de diálogo no lugar da política de confronto, que não conseguiu objetivo algum.
O que vocês esperam depois disso?
Penso que pode ocorrer qualquer coisa. Em primeiro lugar, acho que há uma tendência de suavizar a repressão por parte do governo ou até eliminá-la. Não creio que haverá democracia amanhã, mas estão ocorrendo coisas importantes. Agora, em alguns dias, o senhor Barack Obama e o senhor Raúl Castro terão a oportunidade de se encontrar no Panamá, na cúpula ibero-americana, a que ambos vão assistir. Creio que será um momento muito importante, um momento histórico.
Como estão as ruas em Havana?
Este não é um país livre. Aqui, não há permissão para protestar e também para se alegrar. Você poderia supor que as pessoas estão nas ruas celebrando. Mas você pensa em um país normal. Isso não está ocorrendo. Não quer dizer que não ocorra. Mas deve-se esperar, porque há muita tensão, há muita expectativa com essa notícia que comociona as pessoas. Raúl Castro, quando terminou o discurso, disse que mais adiante serão dados mais detalhes. Estamos esperando por isso.
Vocês esperavam por essa notícia?
Estamos esperando por essa notícia faz muitos anos,
Mas ela os surpreendeu agora?
Foi uma surpresa para todo o mundo. A notícia começou a circular pela manhã, foi uma surpresa para Cuba, para os EUA, para o mundo inteiro. Ontem, Raúl Castro falou pelo telefone com Obama, e as coisas se precipitaram dessa maneira.
Vocês, da oposição, estão se comunicando para conversar sobre o assunto?
Não faz nem 20 minutos. Um pouco já nos falamos. O telefone não para de soar. Agora mesmo, estou mandando mensagens de saudações a algumas pessoas. O que ocorreu hoje é uma conquista, muito importante.
O senhor chegou a falar com Yoani?
Me comuniquei cedo com ela para dar a notícia. Ela já sabia. Foi uma conversa muito breve, porque ela tem muito trabalho agora em Praga. Ela está em um evento do Ministério das Relações Externas, da República Checa, sobre direitos humanos e diplomacia.
Há quem não goste deste momento?
Temos que esperar os desdobramentos, mas, claro, há aqueles que estão quietos. Há aqueles fundamentalistas que rejeitam o fim da política de confronto. Gente que teme a realidade.
Como o senhor classifica a alegria de vocês?
É uma alegria que não é excessiva. Vamos esperar o que vem pela frente.